05/07/2012

Meu coração entristeceu...


Hoje meu coração está triste, dessa vez uma tristeza diferente, não é como alguém que vive um amor não correspondido, não é como alguém com saudades... Tem mais a ver com alguém que perdeu um ente querido, ou está prestes a perder...

Eu sempre fui uma pessoa apaixonada, sempre fui movido por paixões das mais diversas: Paixão pela musica, pelo trabalho, pelos estudos, pelas minhas causas, pelos meus amigos, etc. Sempre coloquei meu coração no pote por tudo. Já briguei por causas tolas, não por infantilidade (talvez), mas porque eu estava apaixonado pelo meu ideal!!

Já chorei sem pudor na rua, já chorei gritado na frente do PC... Coração ferido!

Hoje meu coração está triste, porque quero ajudar quem não quer ser ajudado, porque vejo pessoas que eu amo definhando por obsessões que destrói na velocidade do crack, invisível...

Choro a frustração de me sentir inútil perante do “cuida da sua vida e me esquece!”... Da porta que bate com violência na minha cara e que outrora, era aberta com alegria ao me ver chegar.

Não, não é nenhum caso de alguém que não aceitou ser evangelizado por mim...

Eu falo de ver alguém que eu amo caminhar pro abismo porque quer! Porque desistiu de viver, que não sente mais o sabor do oxigênio enchendo os pulmões, que o coração bate por osmose. Um morto vivo no sentido mais literal da expressão.

Eu falo de alguém que põe um filho no mundo  e o trata como um empecilho, uma maldição. E ao ser interpelada, a mãe da criança diz: “É o jeito dele, fazer o que...”

E por ver o mano que quer viver pouco como rei, do que muito como um Zé...

Hoje as lágrimas lavam meu rosto porque eu tenho perdido cada dia um pouquinho das minhas pessoas queridas, mesmo estando mais vivas do que nunca. Como um adolescente deprimido, hoje eu sento no canto no quarto pra escrever que não consigo me conformar com o conformismo do "Seja o que Deus quiser".

“Eu to fazendo isso é para o seu bem!” Era o que meus pais diziam quando não me deixava sair a noite... Que ironia do destino hoje eu dizer isso a eles...

Que ironia do destino hoje eu ministrar na vida de um amigo que no passado tentou me converter e eu o odiei por isso.

Mas sabe qual é a maior dor de uma pessoa movida pela paixão? É a realidade de que cada coração tem seus próprios desejos. E quando objetivos não se alinham. O apaixonado acaba só.

Talvez eu seja um egoísta por não conseguir aceitar que as pessoas podem fazer o que bem entender de suas vidas, mesmo sem saber o que estão fazendo.

Há tempo de construir... Há tempo de destruir...

Eu preciso aprender isso.

14/06/2012

Uma janela para amizade

Ouvi este conto durante uma pregação do meu pastor Ricardo Gondim e resolvi compartilhar, me atrevendo a mexer em alguns pequenos detalhes...

Dois homens estavam internados em um hospital, ambos com enfermidades graves, sem previsão de alta, com o passar dos dias, os dois foram selando uma boa amizade. Passavam horas e horas conversando, compartilhando experiências e assim iam se espairecendo de suas condições.

Um deles, apesar de muito doente, conseguia se sentar na cama, o outro, não conseguia sequer mexer o pescoço. Ao se compadecer do amigo, o que conseguia se erguer contava o que se passava além da janela.

O rapaz que não podia se levantar ficava encantado só de imaginar a pracinha em frente ao hospital com tantos detalhes bonitos que seu amigo descrevia com cuidadosa minúcia.

- Hoje a praça está cheia de crianças, umas jogando bola, outras empinando pipa... Mais adiante, tem alguns casais namorando, dando pipoca um na boca do outro. Bem longe eu avisto uns carros passando, tão distante que nem dá pra ouvir o barulho do motor... - Contava o amigo.

Os dias se passavam desta maneira, até que um dia pela manhã o rapaz que estava sempre deitado ao acordar, vê enfermeiros arrumando a cama vazia do colega e recebe a noticia que seu companheiro morreu dormindo, sem sofrer. As lagrimas tomaram conta do olhar aflito daquele homem já tão enfermo, e agora sem companhia.

Mais tarde, durante exames de rotina, ele perguntou a enfermeira se poderia ser colocado na cama do amigo para ficar próximo a janela. Seu pedido foi atendido e ao ser posto na cama, ele pediu se era possível erguer o leito para que pudesse olhar para janela. Sua cama foi erguida e quando ele finalmente teria a oportunidade de ver a bela pracinha, ele tem uma desagradável surpresa.

A janela dava para o fundo do hospital, de frente para um paredão branco, nada de pracinha, nada de crianças... Sem entender, ele perguntou a enfermeira "Olha, meu falecido amigo me contava o tempo todo sobre uma praça que tinha crianças, casais de namorados, familias passeando, o que aconteceu?" - A enfermeira tão atônita quanto ele, esclareceu "Isso não é possível, além de não haver nenhuma praça, o rapaz que estava aqui era cego dos dois olhos desde os 10 anos..."

Durante muito tempo ele refletiu tentando entender porque seu querido amigo fazia aquilo... Até chegar a uma conclusão:

"Ele tinha ainda o vigor pra se erguer, mas não tinha a visão para contemplar o que havia ao seu redor, eu tinha visão, mas não tinha forças para usar esse sentido tão importante. Meu amigo quiz ser meus olhos e entregou uma boa parte de seus ultimos dias aliviando a minha dor, anestesiando minhas limitações com seus sonhos de menino, suas lembranças mais doces. A alegria em seu fim de vida era o bem estar do próximo."

Que essa pequena estória de imensurável valor renove sua fé em fazer o bem, não pensando no que pode ter em troca, mas porque vale a pena.

29/05/2012

Um instrumento de lucidez


Muitas vezes em minha vida eu tive que dizer ou fazer (nem sempre por minha vontade) coisas pra pessoas que precisavam de um conselho, uma direção. Creio que todos já passaram por isso.

Contudo, o “volume” de vezes em que eu tive que me dispor a essa função me incomodava, porque vinha na mente: “Esses caras só vem me procurar quando estão na pior, quando estão bem, nem se lembram de mim!”. E era verdade.

Antes de ter um entendimento melhor, eu tinha a sensação de está sendo usado pelos amigos, pois quando eu estava mal, eram pouquíssimos os dispostos a me ouvir, então comecei a evitar, a restringir meu contato.

Mas, quando eu abria meu MSN ou meu Facebook ou meu Orkut (quando eu tinha), ainda assim, vinha alguém desabafar comigo, pedir uma opinião. Muitos desses eu nem conhecia pessoalmente. Era uma perseguição isso!!

Sabem aquela ideia de que Deus usa quem Ele quiser, do jeito que Ele quiser e a hora que Ele quiser? Pois bem, amados! Eu mesmo sem entender, mesmo sem querer e mesmo sem perceber, era instrumento de Deus para trazer algo positivo aos que estavam ao meu redor. Depois de entrar em processo de conversão, essa missão se intensificou e tem se manifestado das formas mais incríveis e inusitadas. Permitam-me compartilhar algo que aconteceu há algumas semanas atrás:

Um dia na minha loja, uma moça chegou dizendo que quebrou o zíper de sua calça e queria comprar um alfinete, eu tinha alguns que usava pra prender enfeites, tirei um e dei pra ela, ao me perguntar quanto era, disse que não era nada, ela queria pagar, mas quanto eu iria cobrar por UM alfinete? Ela agradeceu e foi embora pra trabalhar.

Dias depois, ela voltou à loja falando que queria deixar pelo menos R$1,00 pelo alfinete, eu não aceitei, então ela disse que compraria algo pra compensar. Ela escolheu um kit de pulseiras, se sentou pra procurar seu dinheiro na bolsa que estava cheia de roupas. Aí ela disse:

“Ah minha vida tá tão bagunçada quanto a minha bolsa. Tô me separando do meu marido, ele tá querendo me por pra fora de casa pra por a amante dele lá... Nem sei mais o que faço, há quem recorrer...”.

Condoído pela angustia da moça, falei:

“Olha, não sei o que dizer, nem como ajuda-la, mas assim como naquele dia que você precisava de um alfinete, encontrou uma solução... Em seu caminho, Deus vai te dar a lucidez e uma direção pra você consertar o que está quebrado em sua vida.”

Ela me abraçou com os olhos cheios de lagrima e disse que sabia que era o próprio Deus vivo que falou com ela naquele momento. Aquilo a principio me assustou, mas ao mesmo tempo me deu uma grande alegria. Era a confirmação de que é isso que o Pai tem pra minha vida, ser esse canal, ser esse instrumento.

E por que enfatizo a lucidez no título desse texto? Porque a luz, a paz e a felicidade vêm de Deus, mas para alcançarmos essas maravilhas, precisamos de fé, contudo, eu não posso transferir um pedaço da minha fé para o próximo, mas posso através do Espirito Santo trazer lucidez a quem me ouve e/ou lê. E com a lucidez do entendimento, do bom exemplo e da vivência de cada um, a vida e seus dissabores ganham um novo ângulo de interpretação, uma nova perspectiva. Estes são os primeiros passos para um plano de salvação.

Por isso, não se queixe do fardo de conselheiro, de ouvidor da dor de terceiros, pois como descrito em Atos 20:35, onde relembram o que Jesus disse:

Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.


18/05/2012

Perseguidores Perseguidos


Hoje em dia ser Cristão no Brasil é dura missão, se já não é fácil lutar contra nossa própria condição humana e carnal, ainda temos uma multidão numa caça emocional e ideológica.

Antes do meu processo de conversão, eu engrossava a lista dos perseguidores, aqueles que ficam a espreita aguardando com avidez a falha do crente, o deslize do dito santo, a contradição do homem de Deus. E quando acontecia, era implacável em apontar meu dedo em direção a seus rostos e esfregar com força toda e qualquer discrepância deixada pelo caminho.

Por que será que isso acontece? Por que não vejo essa intensidade na “fiscalização” com o espírita, o católico, o budista? De quem é a culpa?

Hoje em dia ser Cristão no Brasil é motivo de piada, de chacota, é “assinar o atestado de otário”, agradeça aos neopentecostais pela generosa contribuição neste estigma. Abrimos uma enorme brecha a cada escândalo, a cada roubalheira, a cada charlatanismo escancarado nos noticiários, como sustentar a autenticidade da nossa fé diante de tanta difamação?

O “crente chato” que precisa dizer a cada 5 minutos que é da igreja Y porque a igreja X não presta, que tem um versículo da Bíblia na ponta da língua pra cuspir toda vez alguém a seu lado comete um erro. Isso fomenta a antipatia, estamos acusando ao invés de orientar, estamos sendo perseguidores perseguidos.

A frase “O passado te condena” tem sido arma de destruição em massa na mão de quem luta pra invalidar, preconceituar e destruir o argumentador, já que não conseguem fazer o mesmo com o argumento. É uma guerra onde uma tropa ataca a outra na mesma intensidade que ataca seus próprios soldados.

Nós, quanto humanos, só não pecamos enquanto dormimos e olhe lá, muitas vezes já acordamos pecando, quando alguém gasta muito do seu tempo acusando o próximo, é bem provável que a estratégia seja camuflar suas próprias imperfeições. Se ao ver um candomblecista, você diz “Lá vai o macumbeiro!”, que direito você tem de se indignar se quando estiver a caminho da sua igreja, ouvir alguém dizer “Lá vai o otário dar dinheiro pro pastor”? Não persiga se não aceita ser perseguido.

Já há muita luta interna quando decidimos nos desprender das delicias mundanas, já há muito preconceito para conosco quando tentamos trilhar um novo caminho, então que tal deixarmos cada um cuidar de sua libertação? Jesus não força barra, isso é papel de religioso.

Que cada dia, consigamos ser menos Saulos e mais Paulos.

Fé.

08/05/2012

Fraqueza Na Fé e/ou Preconceito Religioso


Pra quem não sabe, além da musica, eu tenho um pequeno comercio na zona sul de São Paulo ligado a produtos eletrônicos, além disso, pego pequenas encomendas de CD’s e DVD’s musicais.

Costuma ir com frequência a nossa loja um casal de evangélicos, na semana passada o rapaz pediu pra eu fazer um CD de “Black Gospel” e ficou de pegar no sábado. Como eu tenho por conhecimento que o que chamam de “Black” são aqueles Raps mais dançantes, eu tomei isso por referência para elaborar a coletânea.

Fui caprichoso, fiz uma seleção bem atualizada, combinei as faixas pra entrarem uma atrás da outra sem intervalos, nivelei os volumes e fiz uma capa personalizada.

Conforme combinado, o cliente foi à loja, pagou pela encomenda e levou embora sem questionar o conteúdo, nem mesmo pediu para ouvir, confiando no meu bom gosto. Cerca de uma hora depois, esse cara entra na loja com os olhos arregalados e aos berros “Que CD é esse que você gravou pra mim?? O que é isso??”, eu sem entender nada, peguei o CD supondo que gravei outra coisa por engano e coloquei no som, ao ver que era exatamente o que foi encomendado perguntei o motivo da indignação dele. Sem titubear, esbravejou – “Você vai querer me dizer que isso é musica de crente? Isso aí não tem nada de Deus!! Você quer que eu vá pro inferno ouvindo isso??”.

Depois de alguns minutos de desabafo e chavões religiosos dos mais piegas, tomei a palavra. Expliquei que aquilo era musica cristã sim, que alguns artistas que incluí são pastores, missionários, ministros de louvor, etc. E fui além, disse que se ele tivesse realmente uma sintonia espiritual com Deus, ele perceberia o conteúdo lírico das faixas sem ao menos saber inglês, afinal, o Espirito Santo possui linguagem inerente as nossas limitações de conhecimento, idioma e etnia.

Enfim, o fato é que temos esse preconceito vivo nas cabeças de muitos cristãos que não conseguem o que eu chamo de enxergar com o espírito, não conseguem ver Deus além da porta de sua igreja, mantem aquela visão limitada de que o Pai celestial apenas se manifesta naquilo que eles consideram santo.

A indignação desse cliente se deu não só porque ele achou que o CD não era Gospel, para ser franco, esse foi o menor dos fatores. O que o fez se encher de revolta foi porque ele não soube lidar com algo que considera “do mundo”, a sua fé é tão frágil que uma simples musica “mundana” seria capaz de corrompê-lo. E olha que nem era secular, ele apenas considerou que fosse.

Eu fico me perguntando como os lideres de igrejas tem instruído seus fieis, como é estimulado o fortalecimento da alma dessas pessoas através seus pastores, como podem colocar na cabeça de uma pessoa o conceito de que tudo que não consiste em Cristo, vai desviá-lo. Então, essa pessoa usa tele transportador que o leva da sua casa a igreja, porque se andar pela rua, é possível que ele nem vá ate seu destino e pare em algum bar ou prostibulo, só porque tem esses estabelecimentos no caminho? E mais, como essas pessoas evangelizam? Se ele conversar com um viciado em crack, ao invés de tira-lo da droga, ele vai acabar sentando do lado com um cachimbo na mão?

Deixemos de ser fracos, preconceituosos, somos sal da Terra, precisamos estar presentes e interagindo com pessoas e lugares que realmente precisam da nossa ação, nossas palavras ou simplesmente da nossa presença! Evangélicos são taxados de chatos, arrogantes e alienados exatamente por exemplos como este que tive em meu comércio, é preciso uma nova postura, mais humana, igualitária, social, que preze pelo dialogo ao invés da repulsa, do aperto de mão ao invés da virada de costas. Eu, na minha humilde opinião e na minha pouca experiência na Palavra, atrevo-me a dizer que este sim é o verdadeiro Cristianismo.

04/05/2012

Meu Testemunho


Paz a todos!


Meu nome é Alexandre de Assis Bezerra, conhecido no cenário do Rap como Eazy Kaos, hoje, apenas como Don Assis.

Nasci em 1977, na capital de São Paulo, primeiro filho de um casal recém-casado, meu pai é pernambucano, representante comercial, sem vínculo a nenhuma doutrina religiosa, minha mãe é mineira, dona de casa, kardecista convicta, porém, com alguns resquícios do catolicismo.

Na infância, fui considerado superdotado, pois aprendi a ler e escrever espontaneamente entre 2 e 3 anos de idade. Como meus pais não dispunham de muitos recursos financeiros, não pude frequentar escolas especiais e fui matriculado em uma escola publica.

Meu primeiro professor, Sr. Pedro, viu em mim uma quebra da rotina, então ele me dava exercícios e lições de casa à parte, com conteúdo avançado, coisas da 4ª e 5ª série, e aí foi que começou as situações adversas. Deu-se início a uma onda de revolta, ciúmes e repulsa por parte das outras crianças, somados ao fato de eu ser obeso e tímido, tive minha experiência no que hoje é conhecido e ”hypado” como Bullying.

Surras, roubos, humilhações, ameaças de toda espécie, eu fui por anos a válvula de escape para as frustrações, limitações e desequilíbrio de crianças e pré-adolescentes. Eu contava uma pequena parte do que acontecia a minha mãe, que nada podia fazer, pois se meu pai soubesse, seria pior, ele tinha um preceito para a solução do Bullying: “Se arrumar briga e apanhar na rua, apanha em casa de novo”.

Estou contando esta parte porque quero que imaginem o turbilhão de coisas que borbulhavam na minha mente (isso sem contar os problemas familiares, que eram muitos, mas prefiro não expor) e que, ao conhecer o Rap, me fez entrar de cabeça, e louvo a Deus por isso, pois quantos casos conhecemos de psicopatas que tiveram problemas parecidos com os meus na infância? Minha saída foi a musica e não uma faca de açougueiro. Eu vi no Rap uma forma de expor minha dor, meu ódio, minhas incompreensões, minhas frustrações sem ser chamado de fresco, chorão, entre outras coisas.

Em 2012, eu completo 22 anos dedicados ao Rap, não tive muitos frutos materiais, mas consegui respeito, reconhecimento e êxito em exorcizar os fantasmas do meu passado.

Paralelo a musica, eu trabalhei em vários segmentos profissionais, não fiz faculdade e eu poderia culpar vários fatores, mas o único culpado foi meu desinteresse, o Rap supria meu vazio, então meu QI elevado não massageava mais o ego. Minha vida amorosa era um desastre, que menina ia querer um gordo CDF sem grana? Ter dinheiro, ser “descolado” atraía mais até que a beleza exterior.

Em 2005, trabalhando numa central de telemarketing, conheci uma garota chamada Julia, uma negra linda, cheia de estilo, esbanjava simpatia e vivia rodeada de colegas, ou seja, totalmente contrário ao meu padrão de convívio humano. Lá ia eu me apaixonar novamente por alguém que não ia nem sequer notar minha presença (apesar do tamanho todo que Deus me deu, rs) mas, ela notou. Viramos amigos, até então não tinha como ser algo a mais, pois ela já tinha um namorado.

Evangélica afastada da igreja e da Palavra, engravidou do seu parceiro e, como muito é visto por aí, o rapaz a abandonou e não tomou posição sobre o fato. Diante do revés, não se esmoreceu e seguiu com o pensamento de independência para criar a filha que estava por vir. Horas extras, corte de gastos, aos poucos ela foi realizando os preparativos para a chegada do bebê.

Nesse momento já estávamos muito próximos, envolvidos e num ato de desprendimento da realidade, começamos um namoro, e eu num momento total de desprendimento da realidade, decidi assumir a paternidade da criança. Meus pais quase enfartaram, a família dela também não me via com bons olhos e envolto a toda essa polemica, nasceu em 2006 nossa primeira filha, Ana Luisa.

Pouco tempo depois começamos a morar juntos em uma casa pequena na zona norte, passamos grandes dificuldades financeiras no começo, mas com a graça de Deus, fui promovido e conseguimos quitar dividas e construir nossos sonhos. Era como o final feliz de uma novela, mas nem tudo estava bem.

Os anos se passaram e o desgaste começou a aparecer, o que era bem compreensível, afinal, nós praticamente não namoramos, não tivemos tempo de nos conhecer, se curtir, enxergar defeitos, eu passei de solteiro a pai de família, sem escalas. Minha sogra interferia de forma anormal, ela tinha uma paixão obsessiva pela primeira neta e era difícil dar um passo sem sua não requisitada participação. Minha mulher não sabia lidar com a situação, é a velha história de romper de fato o cordão umbilical, mas para ela, isso era querer mais do que poderia me dar.

Talvez agora você esteja se perguntando “como pode, um cara assumiu a filha dela e ela não dá o valor?”. Eu também pensei isso na época e ela se sentindo mal por conta disso, sentiu a necessidade de me dar um filho biológico. E em 2009, nasce meu filho Igor.

Eu nunca vi minha filha de forma diferente, pra falar a verdade, é muito raro passar pela minha cabeça esse fato, muitos diziam que eu iria perceber que é diferente quando eu tivesse um filho legitimo, pois bem! Meu filho nasceu e nosso Senhor não permitiu nenhum tipo de discriminação em meu coração.

Mesmo diante de tudo isso, não éramos felizes, não nos entendíamos, mudamos pra zona sul, pra perto dos meus pais, uma casa bem maior, confortável, compramos moveis novos, queríamos um ar novo a nossa relação, mas, não adiantou.

Brigas cada vez maiores, meu trabalho indo de mal a pior, não conseguia mais compor nenhuma letra, comecei a ir a bares, baladas, passei a flertar com funcionarias da empresa, entrar em redes sociais com perfis fakes e namorar virtualmente, tudo pra aliviar um vazio que não sabia preencher. Foi quando tive minha primeira experiência com Deus vivo.

Em uma sala de cinema, sozinho assistindo a estreia do filme Jogos Mortais VI, eu ouvia perfeitamente alguém me dizendo “Ta vendo toda a dor e sofrimento que esse rapaz está passando, ao ser julgado por ter vivido uma vida sem limites e cheia de mentiras? Não espere algo nesse formato fantasioso, mas esteja certo que você também passará por sofrimento de toda espécie se você continuar assim. Você tem me deixado fora de sua vida, não conversa mais comigo, você precisa mudar sua conduta, valorizar sua família, reconhecer quem é o Senhor em sua vida. Vá pra casa e faça a escolha certa”.

Voltei pra casa apavorado, não como alguém que viu um fantasma, mas porque aconteceu comigo o que eu achava ser coisa de gente louca quando eu ouvia histórias assim. Ao chegar, chamei minha esposa e confessei todas as coisas erradas que eu estava fazendo, sem filtrar nada, falei por longas horas, falei do vazio que nosso casamento não conseguia preencher e por fim, disse que queria que ela me levasse até uma igreja. Há anos eu não via a Julia tão feliz e no fim de semana fomos a uma igreja, aceitei o apelo e comecei meu processo de conversão.

Tudo parecia que ia melhorar, mas é incrível como o inimigo usa as menores brechas que passam batidas pra ele agir. Em pouco tempo de conversão, entrei em um projeto chamado Religare, que era um grupo de Rap formado por convertidos e não convertidos, fui convidado a participar do álbum Invencível do DJ Alpiste, me apresentei em diversos eventos de musica Gospel, fiquei maravilhado com essa escalada para o sucesso, mas esqueci de um detalhe fundamental, a Palavra de Deus. Não me capacitei, não me batizei, não me alimentei em conhecimento, então, como podia se prever, no primeiro obstáculo espiritual, eu fraquejei e abandonei Cristo.

Não demorou muito, perdi meu emprego e estourei todo o dinheiro com bobagens e caprichos, meu casamento se arruinou de vez, nos separamos e foi de uma forma dolorida, causei muito sofrimento a Julia e as crianças, pois os dois irmãos também foram separados, o Igor foi morar comigo na casa dos meus pais e a Ana ficou com a mãe.

Voltar a morar com meus pais foi talvez a forma mais visceral de vivenciar uma verdadeira tempestade em minha vida. A casa deles já não me comportava, afinal, fiquei 4 anos fora, é evidente que houve uma adequação, e o pior, voltei com um bebê no colo. Fiquei 6 meses dormindo no sofá pra que o Igor pudesse ter uma cama colocada no pouco espaço que ainda havia no quarto da minha irmã caçula. A cada briga em casa, me era esfregada na cara a minha historia e minha derrota na vida. Eu perdi minha dignidade, independência e naquela ocasião eu só não dei cabo de minha vida, porque o Igor era meu único instrumento de motivação e equilíbrio, toda minha dor sarava ao ver aquele sorriso inocente e por muitas vezes, ser o único a me receber com alegria ao chegar em casa.

Me envolvi com varias mulheres, dos mais variados temperamentos, mas nenhuma dava certo, até que decidi ser o que na gíria norte americana é chamado One Deep, viver pra sempre sem compromisso amoroso. A cada fim de semana, uma nova garota, sexo, bebida, promiscuidades das mais vulgares, orgias, noitadas. Mas ao entrar em casa, minha única companheira era a solidão. Meu vazio ainda me incomodava, e muito.

A convite da P.A., uma mulher de Deus e uma amiga querida que através do Rap propaga o Evangelho, fui fazer um show em sua cidade, em Goiânia. Minha primeira viagem de avião, estava feliz e ansioso, mas meu coração estava inquieto, uma sensação diferente.

Chegando lá, tive uma nova experiência com o Espírito Santo, desta vez em um outro formato.

Conheci o Sancro, marido da P.A. e o filho deles, o pequeno Breno, vi algo neles que me chamou muito a atenção, eles faziam tudo juntos, os três sempre em comunhão. Mesmo diante das dificuldades do evento, eles não se desanimavam e estavam sempre animados, motivados. Essa disposição estava clara que não era algo físico e tangível, aquilo tinha uma origem espiritual.

No show, bem na hora que ia subir ao palco para participar do show a P.A., o som parou, sem explicação, e mais uma vez, sem desanimarem, ela tomou a atitude de pedir pra que, junto com ela, o publico orasse pedindo pra que nenhuma seta do mal atingisse o propósito daquele show, que era louvar o nome de Deus. E sem interferência humana, o som voltou. Aquilo me deixou muito emocionado.

Ao voltar para o hotel, senti uma saudade enorme da Julia, das crianças, da nossa família, nossa historia, nosso amor, pude ver de forma clara o que é Deus na historia de uma família, o que Deus pode realizar para quem tem fé, como Ele pode transformar, proteger, abençoar quem é temente a Ele. Percebi que Deus nunca vai abandonar quem recorre a Ele quando o objetivo é amparar a instituição humana mais sagrada e que mais agrada a Ele. Pela primeira vez me arrependi de fato e de todo meu coração de todo o mal que eu havia feito, do meu egoísmo em colocar a vida da minha mulher e filhos em dissabor em prol do meu bem estar individual. Procurei em dezenas de outros abraços o carinho que eu só tinha da minha companheira do passado. Não havia encontrado nenhuma mulher que estivesse disposta a passar fome sem reclamar, passar fins de semana em casa por eu não ter dinheiro, passar a noite em claro pra cuidar do meu filho ou até a mim mesmo quando ficava doente. Deus em sua infinita bondade, tirou as escamas do meu olho pra que eu pudesse ver o que eu deixei pra trás, pra eu perceber como um Cristão se porta diante das intempéries, e o mais importante: Fez-me compreender que devo amá-Lo não pelo o que Ele pode fazer na hora difícil, mas pelo que Ele é na vida de quem está na Sua presença. As demais coisas,como dito na Bíblia, me serão acrescentadas.

Voltei pra São Paulo, me encontrei com a Julia, tivemos uma conversa franca e pude mais uma vez constatar o poder de Deus. Vi nosso amor reacender, nossos olhos brilharem novamente e finalmente reencontrei a mulher da minha vida. Recuperei minha esperança e estou em um novo e sólido processo de conversão. Desta vez, sem a vaidade da musica, sem me alicerçar em homens. Estou experimentando a graça de Deus sendo derramada em minha vida, meu convívio com meus pais em harmonia, prosperidade no nosso pequeno comercio, perdoando e sendo perdoado, etc.

Logo serei batizado nas águas, logo minha esposa e eu nos casaremos “como manda o figurino” e logo voltaremos a morar juntos, não como antes, mas agora em um verdadeiro lar, em nome de Jesus.

Esse é o meu testemunho de vida, mas que ainda continua sendo escrito pelas mãos perfeitas e sagradas de Deus.