Pra quem não sabe, além da musica, eu tenho um pequeno
comercio na zona sul de São Paulo ligado a produtos eletrônicos, além disso,
pego pequenas encomendas de CD’s e DVD’s musicais.
Costuma ir com frequência a nossa loja um casal de
evangélicos, na semana passada o rapaz pediu pra eu fazer um CD de “Black
Gospel” e ficou de pegar no sábado. Como eu tenho por conhecimento que o que
chamam de “Black” são aqueles Raps mais dançantes, eu tomei isso por referência
para elaborar a coletânea.
Fui caprichoso, fiz uma seleção bem atualizada, combinei
as faixas pra entrarem uma atrás da outra sem intervalos, nivelei os volumes e
fiz uma capa personalizada.
Conforme combinado, o cliente foi à loja, pagou pela
encomenda e levou embora sem questionar o conteúdo, nem mesmo pediu para ouvir,
confiando no meu bom gosto. Cerca de uma hora depois, esse cara entra na loja
com os olhos arregalados e aos berros “Que CD é esse que você gravou pra mim??
O que é isso??”, eu sem entender nada, peguei o CD supondo que gravei outra
coisa por engano e coloquei no som, ao ver que era exatamente o que foi
encomendado perguntei o motivo da indignação dele. Sem titubear, esbravejou – “Você
vai querer me dizer que isso é musica de crente? Isso aí não tem nada de Deus!!
Você quer que eu vá pro inferno ouvindo isso??”.
Depois de alguns minutos de desabafo e chavões religiosos
dos mais piegas, tomei a palavra. Expliquei que aquilo era musica cristã sim,
que alguns artistas que incluí são pastores, missionários, ministros de louvor,
etc. E fui além, disse que se ele tivesse realmente uma sintonia espiritual com
Deus, ele perceberia o conteúdo lírico das faixas sem ao menos saber inglês,
afinal, o Espirito Santo possui linguagem inerente as nossas limitações de
conhecimento, idioma e etnia.
Enfim, o fato é que temos esse preconceito vivo nas
cabeças de muitos cristãos que não conseguem o que eu chamo de enxergar com o espírito, não conseguem
ver Deus além da porta de sua igreja, mantem aquela visão limitada de que o Pai
celestial apenas se manifesta naquilo que eles consideram santo.
A indignação desse cliente se deu não só porque ele achou
que o CD não era Gospel, para ser franco, esse foi o menor dos fatores. O que o
fez se encher de revolta foi porque ele não soube lidar com algo que considera “do
mundo”, a sua fé é tão frágil que uma simples musica “mundana” seria capaz de
corrompê-lo. E olha que nem era secular, ele apenas considerou que fosse.
Eu fico me perguntando como os lideres de igrejas tem instruído
seus fieis, como é estimulado o fortalecimento da alma dessas pessoas através seus
pastores, como podem colocar na cabeça de uma pessoa o conceito de que tudo que
não consiste em Cristo, vai desviá-lo. Então, essa pessoa usa tele
transportador que o leva da sua casa a igreja, porque se andar pela rua, é
possível que ele nem vá ate seu destino e pare em algum bar ou prostibulo, só
porque tem esses estabelecimentos no caminho? E mais, como essas pessoas
evangelizam? Se ele conversar com um viciado em crack, ao invés de tira-lo da
droga, ele vai acabar sentando do lado com um cachimbo na mão?
Deixemos de ser fracos, preconceituosos, somos sal da
Terra, precisamos estar presentes e interagindo com pessoas e lugares que
realmente precisam da nossa ação, nossas palavras ou simplesmente da nossa
presença! Evangélicos são taxados de chatos, arrogantes e alienados exatamente
por exemplos como este que tive em meu comércio, é preciso uma nova postura,
mais humana, igualitária, social, que preze pelo dialogo ao invés da repulsa,
do aperto de mão ao invés da virada de costas. Eu, na minha humilde opinião e
na minha pouca experiência na Palavra, atrevo-me a dizer que este sim é o
verdadeiro Cristianismo.
Parabéns, Eazy ! Vc escreve muito bem. Adorei sua reflexão. Não para de escrever não...bjo
ResponderExcluirParabéns pelo texto irmão, já passei por situação parecida e senti a mesma frustação que você. Abraços...
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