Paz a todos!
Meu nome é Alexandre de Assis Bezerra, conhecido no cenário do Rap como Eazy Kaos, hoje, apenas como Don Assis.
Nasci em 1977, na capital de São Paulo, primeiro filho de
um casal recém-casado, meu pai é pernambucano, representante comercial, sem
vínculo a nenhuma doutrina religiosa, minha mãe é mineira, dona de casa,
kardecista convicta, porém, com alguns resquícios do catolicismo.
Na infância, fui considerado superdotado, pois aprendi a
ler e escrever espontaneamente entre 2 e 3 anos de idade. Como meus pais não
dispunham de muitos recursos financeiros, não pude frequentar escolas
especiais e fui matriculado em uma escola publica.
Meu primeiro professor, Sr. Pedro,
viu em mim uma quebra da rotina, então ele me dava exercícios e lições de casa à
parte, com conteúdo avançado, coisas da 4ª e 5ª série, e aí foi que começou as situações
adversas. Deu-se início a uma onda de revolta, ciúmes e repulsa por parte das
outras crianças, somados ao fato de eu ser obeso e tímido, tive minha
experiência no que hoje é conhecido e ”hypado” como Bullying.
Surras, roubos, humilhações, ameaças de toda espécie, eu
fui por anos a válvula de escape para as frustrações, limitações e desequilíbrio
de crianças e pré-adolescentes. Eu contava uma pequena parte do que acontecia a minha mãe, que
nada podia fazer, pois se meu pai soubesse, seria pior, ele tinha um preceito
para a solução do Bullying: “Se arrumar
briga e apanhar na rua, apanha em casa de novo”.
Estou contando esta parte porque quero que imaginem o
turbilhão de coisas que borbulhavam na minha mente (isso sem contar os
problemas familiares, que eram muitos, mas prefiro não expor) e que, ao
conhecer o Rap, me fez entrar de
cabeça, e louvo a Deus por isso, pois quantos casos conhecemos de psicopatas
que tiveram problemas parecidos com os meus na infância? Minha saída foi a
musica e não uma faca de açougueiro. Eu vi no Rap uma forma de expor minha dor, meu ódio, minhas incompreensões,
minhas frustrações sem ser chamado de fresco, chorão, entre outras coisas.
Em 2012, eu completo 22 anos dedicados ao Rap, não tive muitos frutos materiais, mas
consegui respeito, reconhecimento e êxito em exorcizar os fantasmas do meu
passado.
Paralelo a musica, eu trabalhei em vários segmentos
profissionais, não fiz faculdade e eu poderia culpar vários fatores, mas o único
culpado foi meu desinteresse, o Rap
supria meu vazio, então meu QI elevado não massageava mais o ego. Minha vida
amorosa era um desastre, que menina ia querer um gordo CDF sem grana? Ter
dinheiro, ser “descolado” atraía mais até que a beleza exterior.
Em 2005, trabalhando numa central de telemarketing,
conheci uma garota chamada Julia, uma negra linda, cheia de estilo, esbanjava
simpatia e vivia rodeada de colegas, ou seja, totalmente contrário ao meu
padrão de convívio humano. Lá ia eu me apaixonar novamente por alguém que não
ia nem sequer notar minha presença (apesar do tamanho todo que Deus me deu, rs)
mas, ela notou. Viramos amigos, até então não tinha como ser algo a mais, pois ela já tinha um namorado.
Evangélica afastada da igreja e da Palavra, engravidou do
seu parceiro e, como muito é visto por aí, o rapaz a abandonou e não tomou
posição sobre o fato. Diante do revés, não se esmoreceu e seguiu com o
pensamento de independência para criar a filha que estava por vir. Horas
extras, corte de gastos, aos poucos ela foi realizando os preparativos para a
chegada do bebê.
Nesse momento já estávamos muito próximos, envolvidos e
num ato de desprendimento da realidade, começamos um namoro, e eu num momento total
de desprendimento da realidade, decidi assumir a paternidade da criança. Meus
pais quase enfartaram, a família dela também não me via com bons olhos e
envolto a toda essa polemica, nasceu em 2006 nossa primeira filha, Ana Luisa.
Pouco tempo depois começamos a morar juntos em uma casa
pequena na zona norte, passamos grandes dificuldades financeiras no começo, mas
com a graça de Deus, fui promovido e conseguimos quitar dividas e construir
nossos sonhos. Era como o final feliz de uma novela, mas nem tudo estava bem.
Os anos se passaram e o desgaste começou a aparecer, o
que era bem compreensível, afinal, nós praticamente não namoramos, não tivemos
tempo de nos conhecer, se curtir, enxergar defeitos, eu passei de solteiro a
pai de família, sem escalas. Minha sogra interferia de forma anormal, ela tinha
uma paixão obsessiva pela primeira neta e era difícil dar um passo sem sua não
requisitada participação. Minha mulher não sabia lidar com a situação, é a
velha história de romper de fato o cordão umbilical, mas para ela, isso era
querer mais do que poderia me dar.
Talvez agora você esteja se perguntando “como pode, um cara
assumiu a filha dela e ela não dá o valor?”. Eu também pensei isso na época e
ela se sentindo mal por conta disso, sentiu a necessidade de me dar um filho biológico.
E em 2009, nasce meu filho Igor.
Eu nunca vi minha filha de forma diferente, pra falar a
verdade, é muito raro passar pela minha cabeça esse fato, muitos diziam que eu
iria perceber que é diferente quando eu tivesse um filho legitimo, pois bem!
Meu filho nasceu e nosso Senhor não permitiu nenhum tipo de discriminação em
meu coração.
Mesmo diante de tudo isso, não éramos felizes, não nos entendíamos,
mudamos pra zona sul, pra perto dos meus pais, uma casa bem maior, confortável,
compramos moveis novos, queríamos um ar novo a nossa relação, mas, não
adiantou.
Brigas cada vez maiores, meu trabalho indo de mal a pior,
não conseguia mais compor nenhuma letra, comecei a ir a bares, baladas, passei
a flertar com funcionarias da empresa, entrar em redes sociais com perfis fakes e namorar virtualmente, tudo pra
aliviar um vazio que não sabia preencher. Foi quando tive minha primeira experiência
com Deus vivo.
Em uma sala de cinema, sozinho assistindo a estreia do
filme Jogos Mortais VI, eu ouvia perfeitamente alguém me dizendo “Ta vendo toda
a dor e sofrimento que esse rapaz está passando, ao ser julgado por ter vivido uma
vida sem limites e cheia de mentiras? Não espere algo nesse formato fantasioso,
mas esteja certo que você também passará por sofrimento de toda espécie se você
continuar assim. Você tem me deixado fora de sua vida, não conversa mais
comigo, você precisa mudar sua conduta, valorizar sua família, reconhecer quem
é o Senhor em sua vida. Vá pra casa e faça a escolha certa”.
Voltei pra casa apavorado, não como alguém que viu um
fantasma, mas porque aconteceu comigo o que eu achava ser coisa de gente louca
quando eu ouvia histórias assim. Ao chegar, chamei minha esposa e confessei
todas as coisas erradas que eu estava fazendo, sem filtrar nada, falei por
longas horas, falei do vazio que nosso casamento não conseguia preencher e por
fim, disse que queria que ela me levasse até uma igreja. Há anos eu não via a
Julia tão feliz e no fim de semana fomos a uma igreja, aceitei o apelo e
comecei meu processo de conversão.
Tudo parecia que ia melhorar, mas é incrível como o
inimigo usa as menores brechas que passam batidas pra ele agir. Em pouco tempo
de conversão, entrei em um projeto chamado Religare, que era um grupo de Rap formado por convertidos e não
convertidos, fui convidado a participar do álbum Invencível do DJ Alpiste, me apresentei em diversos eventos de musica
Gospel, fiquei maravilhado com essa escalada para o sucesso, mas esqueci de um
detalhe fundamental, a Palavra de Deus. Não me capacitei, não me batizei, não
me alimentei em conhecimento, então, como podia se prever, no primeiro obstáculo
espiritual, eu fraquejei e abandonei Cristo.
Não demorou muito, perdi meu emprego e estourei todo o
dinheiro com bobagens e caprichos, meu casamento se arruinou de vez, nos
separamos e foi de uma forma dolorida, causei muito sofrimento a Julia e as
crianças, pois os dois irmãos também foram separados, o Igor foi morar comigo na casa dos meus pais e a Ana ficou com a mãe.
Voltar a morar com meus pais foi talvez a forma mais
visceral de vivenciar uma verdadeira tempestade em minha vida. A casa deles já
não me comportava, afinal, fiquei 4 anos fora, é evidente que houve uma
adequação, e o pior, voltei com um bebê no colo. Fiquei 6 meses dormindo no
sofá pra que o Igor pudesse ter uma cama colocada no pouco espaço que ainda havia no
quarto da minha irmã caçula. A cada briga em casa, me era esfregada na cara a
minha historia e minha derrota na vida. Eu perdi minha dignidade, independência
e naquela ocasião eu só não dei cabo de minha vida, porque o Igor era meu único
instrumento de motivação e equilíbrio, toda minha dor sarava ao ver aquele sorriso
inocente e por muitas vezes, ser o único a me receber com alegria ao chegar em
casa.
Me envolvi com varias mulheres, dos mais variados
temperamentos, mas nenhuma dava certo, até que decidi ser o que na gíria norte
americana é chamado One Deep, viver
pra sempre sem compromisso amoroso. A cada fim de semana, uma nova garota,
sexo, bebida, promiscuidades das mais vulgares, orgias, noitadas. Mas ao entrar
em casa, minha única companheira era a solidão. Meu vazio ainda me incomodava,
e muito.
A convite da P.A., uma mulher de Deus e uma amiga querida
que através do Rap propaga o Evangelho, fui fazer um show em sua cidade, em Goiânia.
Minha primeira viagem de avião, estava feliz e ansioso, mas meu coração estava
inquieto, uma sensação diferente.
Chegando lá, tive uma nova experiência com o Espírito
Santo, desta vez em um outro formato.
Conheci o Sancro, marido da P.A. e o filho deles, o
pequeno Breno, vi algo neles que me chamou muito a atenção, eles faziam tudo
juntos, os três sempre em comunhão. Mesmo diante das dificuldades do evento,
eles não se desanimavam e estavam sempre animados, motivados. Essa disposição
estava clara que não era algo físico e tangível, aquilo tinha uma origem
espiritual.
No show, bem na hora que ia subir ao palco para
participar do show a P.A., o som parou, sem explicação, e mais uma vez, sem
desanimarem, ela tomou a atitude de pedir pra que, junto com ela, o publico
orasse pedindo pra que nenhuma seta do mal atingisse o propósito daquele show,
que era louvar o nome de Deus. E sem interferência humana, o som voltou. Aquilo
me deixou muito emocionado.
Ao voltar para o hotel, senti uma saudade enorme da
Julia, das crianças, da nossa família, nossa historia, nosso amor, pude ver de
forma clara o que é Deus na historia de uma família, o que Deus pode realizar
para quem tem fé, como Ele pode transformar, proteger, abençoar quem é temente
a Ele. Percebi que Deus nunca vai abandonar quem recorre a Ele quando o
objetivo é amparar a instituição humana mais sagrada e que mais agrada a Ele.
Pela primeira vez me arrependi de fato e de todo meu coração de todo o mal que
eu havia feito, do meu egoísmo em colocar a vida da minha mulher e filhos em dissabor
em prol do meu bem estar individual. Procurei em dezenas de outros abraços o
carinho que eu só tinha da minha companheira do passado. Não havia encontrado
nenhuma mulher que estivesse disposta a passar fome sem reclamar, passar fins
de semana em casa por eu não ter dinheiro, passar a noite em claro pra cuidar
do meu filho ou até a mim mesmo quando ficava doente. Deus em sua infinita
bondade, tirou as escamas do meu olho pra que eu pudesse ver o que eu deixei
pra trás, pra eu perceber como um Cristão se porta diante das intempéries, e o
mais importante: Fez-me compreender que devo amá-Lo não pelo o que Ele pode
fazer na hora difícil, mas pelo que Ele é na vida de quem está na Sua presença.
As demais coisas,como dito na Bíblia, me serão acrescentadas.
Voltei pra São Paulo, me encontrei com a Julia, tivemos
uma conversa franca e pude mais uma vez constatar o poder de Deus. Vi nosso
amor reacender, nossos olhos brilharem novamente e finalmente reencontrei a
mulher da minha vida. Recuperei minha esperança e estou em um novo e sólido
processo de conversão. Desta vez, sem a vaidade da musica, sem me alicerçar em
homens. Estou experimentando a graça de Deus sendo derramada em minha vida, meu
convívio com meus pais em harmonia, prosperidade no nosso pequeno comercio,
perdoando e sendo perdoado, etc.
Logo serei batizado nas águas, logo minha esposa e eu nos
casaremos “como manda o figurino” e logo voltaremos a morar juntos, não como
antes, mas agora em um verdadeiro lar, em nome de Jesus.
Esse é o meu testemunho de vida, mas que ainda continua
sendo escrito pelas mãos perfeitas e sagradas de Deus.